Aranhas do gênero Loxosceles são as principais responsáveis por acidentes aracnídeos na medicina humana no Brasil. Na medicina veterinária, embora haja provável subnotificação devido ao desafio diagnóstico, a incidência é maior em cães do que em gatos. O veneno da aranha-marrom contém enzimas com potencial proteolítico, hemolítico, vasoconstritivo e coagulante. Assim, clinicamente, o loxoscelismo caracteriza-se por picada pouco dolorosa, que evolui para dermonecrose de difícil cicatrização. O quadro pode progredir para uma forma cutâneo-hemolítica com hemólise maciça, hemoglobinúria, icterícia e complicações como insuficiência renal aguda e coagulação intravascular disseminada. Objetiva-se relatar um caso de suspeita de loxoscelismo canino com acometimento orbitário grave, tratado por exenteração associada à técnica reconstrutiva. Foi atendida uma cadela, sem raça definida, de 7 anos de idade, apresentando lesão na face direita, com aumento de volume ao redor do bulbo ocular e região cervical, com evolução de 5 dias. Durante exame físico, observou-se hipertermia, linfonodos mandibulares reativos e fistulação com secreção piosanguinolenta na região maxilar. Avaliação oftalmológica revelou placas necróticas nas pálpebras, exoftalmia do olho direito (OD) com pressão intraocular de 99mmHg, reflexos pupilares ausentes, descolamento de retina, além de luxação anterior da lente e provável abscesso retrobulbar. Exames hematológicos indicaram leucocitose neutrofílica, hipergamaglobulinemia e aumento da enzima alaninoaminotransferase (ALT). Optou-se pela realização da exenteração do bulbo ocular e debridamento das regiões necrosadas. Para a síntese do defeito, utilizou-se um retalho de padrão subdérmico de avanço unipediculado da região de face e orelha. Inicialmente, traçam-se duas linhas paralelas a partir do defeito, com comprimento equivalente ao mesmo e, para evitar a formação de “dog ears”, confeccionam-se dois triângulos de Burrow, cada um com metade do comprimento do defeito, de modo que eles se encerrem junto à extremidade do retalho. A incisão é feita ao longo das linhas demarcadas, seguida da divulsão da pele, com preservação do tecido subcutâneo, da musculatura miocutânea, bem como da vascularização. O retalho é avançado para cobertura do defeito cirúrgico e a dermorrafia é realizada com pontos simples separados, usando fio monofilamentar não absorvível. O exame histopatológico confirmou necrose compatível com a que ocorre em episódios de picada da aranha-marrom. O diagnóstico é realizado a partir da detecção do veneno, mas rotineiramente baseia-se na observação de lesões dermonecróticas, associada ao histórico do paciente e sinais clínicos sistêmicos. Neste estudo, o manejo cirúrgico constituiu uma abordagem eficiente para remoção do foco infeccioso e do tecido necrótico, prevenindo complicações secundárias e promovendo alívio da dor. A exenteração foi necessária diante do comprometimento visual associado a algia ocular e, aliada ao uso do retalho subdérmico unipediculado de avanço, proporcionou conforto ao paciente e cobertura eficaz do defeito resultante da extensa área de lesões necróticas, permitindo adequada reparação tecidual